Aqueles olhos possuíam inimagináveis histórias para contar. Doce e cativante criatura, não me contava suas melancolias porque temia que eu não pudesse dormir à noite.

Uma vez, me disse enquanto apagava dentro de mim que podia sentir uma fina escapatória do próprio corpo. Flutuou pelo intenso infinito de incertezas humanas em um espaço silencioso do tempo. Ela não sabia sobre a realidade temporal, tive que explicar minuciosamente. Seu olhar apagado ficava deslumbrado com novas descobertas. Era engraçado como pequenas coisas a faziam despertar, outras, desaparecer.
        
Nossa relação nunca foi concreta, não teve palavras ou títulos dados. Ela simplesmente… apareceu. Às vezes, parecia que tinha medo de mim. Outras, de si mesma. Não consigo lembrar do seu rosto, mas lembro de suas risadas quando estávamos no escuro. Eu brincava de pegar a estrela mais distante do céu. 

— Tome o resto da minha luz. 

         Ela tinha saudades de casa. Chamei de
                 
           O Lar dos Esquecidos.
    
         Porque era assim que eu me sentia.
                                      
                                           Esquecido. 

       
Eu sei que ela tentava me proteger todas as vezes que eu abria meu coração. Sorria como se sempre me conhecesse mesmo que eu não soubesse o seu nome. Ela chegou a me dizer? Como posso me sentir tão seguro com alguém que não lembro?
 
Ela me disse que jamais imaginou a autenticidade e possibilidades cabíveis dentro de uma mente humana quando eu falava de amor. Segundos depois, se acabava em lágrimas porque se sentia frustrada por ser carregada comigo.

Que insegura! Ela jamais seria um problema pra mim.
    

Por último, a Solidão disse que tinha ódio de existir dentro de mim, mesmo que tenha se apaixonado. Contou sobre sua necessidade de permanência, carências e traumas. Era como um bloqueio tão real. Se ela soubesse a magnitude que seus olhos possuem, não diria heresias de si mesma.


Cada vez que olho dentro deles, posso ver a mim mesmo.