parece você

Cheguei em casa. O peso todo veio, me trazendo de volta, de tanto sustentar esse papel adorável para existir lá fora. Tomei um banho pra me lavar de mim mesma e meus pensamentos, lavei meu cabelos sujos de ideias, meu corpo cheio de riscos. Os cabelos molhados, frios e limpos tocaram as minhas costas nuas enquanto eu lavava meu rosto descansado na frente do espelho. Me senti relaxada. Adoro tomar banho à noite enquanto estão dormindo, porque não escuto sons além do que vem lá de fora. Vesti a roupa mais confortável do mundo, adoro a sensação que ela dá quando encosta no meu corpo gelado e como faz me sentir protegida, segura e pronta pra dormir. Me deitei, dormi muito bem e acordei com o corpo dolorido de tanto que a soneca surtiu. Me senti bem. 

Voltei pra casa no outro dia. A minha roupa confortável de dormir virou pano de chão. Perdeu a corzinha e ficou toda desbotada por causa da sujeira e da água sanitária. Fiquei olhando, um pouco confusa. Eu deveria me importar? Já fizeram o mesmo com a minha toalha de tomar banho uma vez, sem ao menos me perguntar. Fizeram isso com a roupa dos meninos? Não, foi só com a minha mesmo. Mas é a minha roupa confortável de dormir… como pegaram ela se estava no quarto? Como decidiram usar se já me viram várias vezes com ela? Será que se perguntaram como eu me sentiria? Bem, era a eu que eu vestia depois de me lavar e me relaxar pra mim. Não liguei o suficiente. Fui dormir. 

No fim de semana, tomei um banho relaxante pra acalmar a minha mente agitada. Muitos pensamentos ao mesmo tempo pra aguentar. Os últimos dias da semana sempre concluem e sustentam pesos, eu precisava do gélido e desesperado toque da água pra apagar a chama de dores e medos. Nesses momentos, preciso dar uma pausa de tudo e refrescar a minha cabeça. A água gelada cai na na minha testa e passa nos meus olhos que estão chorando. Por que estou chorando? Com a minha toalha nova, lavei meu rosto, cabelos e corpo. Enxuguei tudo. Limpinha, pele gelada e relaxada. A pele cheirando a sabonete, meus pulmões conseguem respirar mais devagar. Refrescante. 

No mesmo dia, mais tarde, a toalha nova virou pano de chão. Olhei pra mim mesma lá nos pinguinhos de água sanitária no chão do corredor. É, era a toalha nova. Era aquela eu relaxada depois de um banho. Eu significo isso? Nem ao menos perguntaram se era minha, nem ao menos fazem isso com as coisas dos outros, então por que só as minhas? Já foram três vezes. 

O que aconteceu da última vez que fiquei irritada? Ah, é mesmo. Não posso ficar irritada. Então, como devo lidar com isso sendo sincera com meus sentimentos? 

“É culpa tua isso tá no chão!”, mas será que é culpa minha mesmo? 

“Tu só faz tudo errado. Nada nessa vida tu acerta, já parou pra prestar atenção? Tu só toma decisão errada, só tu fala coisa errada.” mas será que é verdade mesmo? 

Olhei pro chão, olhei pra mim de cima. 

Três vezes. 

Começou a chover. Adoro o barulho irritado da chuva forte lá de fora. Vocês estão falando comigo, não é? 

“Vou escrever sobre isso.” sorri enquanto me molhava na chuva transtornada que acalmava a minha mente enfurecida.

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