Pra começar a saga, ouvi na semana passada que eu ia morrer sozinha porque era uma casca vazia que não se importava com ninguém além de si mesma. Pff, que piada. Quem se importa com outra coisa além de si mesmo hoje em dia? O capitalismo não moldou a gente pra ser competitivo, individual, dar nossos pulos e depois postar nas redes sociais dizendo que basta ter foco e persistência?
Pensei sobre isso rapidamente. Fiz um questionário breve:
Eu deveria me fazer de coitadinha e contar a minha história mais traumática para me humanizarem e me acolherem?
Eu deveria dizer “Que se foda. Por que tá aqui, então?” e sorriria.
Porque pode ser verdade, pode ser realmente que eu só ligue para o que me beneficia, mas você… não vai embora, certo?
A incerteza doeu. Meu coração palpitou por meio segundo.
Se eu fosse sincera e mostrasse como realmente sou, daria muita liberdade de confiança e eu me sentiria à vontade o suficiente para perceber os meus defeitos. Eu não me esconderia mais da minha sombra nem mesmo evitaria o espelho na hora de escovar os dentes. Nesse instante entre a minha resposta curta, você retribuiria o sorriso pra mim, porque está tão ciente de quem eu sou que sabe que por mais que seja verdade, os meus defeitos não são o suficiente para fazê-la ir e diria “Porque gosto de você, por isso tô te dizendo…”. Perigo. A guarda estaria baixa demais para que eu olhasse para mim mesma através do que você enxerga, quer dizer, eu não preciso ser suficiente para conquistar o seu amor e afeto. Você gosta de mim sem que eu me esforce para isso e é muito estranho, porque fomos inseridas em ambientes onde precisávamos, para nossa sobrevivência, sermos elogiadas até pelo o que não éramos, então fingíamos, mentíamos e escondíamos. A sua resposta me deixaria anestesiada por alguns segundos. Você estaria me olhando e eu também olharia para mim, mas dessa vez de verdade, porque o seu amor me faria perceber que posso ser amada sem nenhuma culpa, sem nenhuma desconfiança ou medo de que vá decepcionar você em algum momento. Porque, ah, quem diria, está tudo bem. Me faria entender que tudo bem eu ter defeitos, todas as pessoas têm. O meu silêncio e meu sorriso torto e provavelmente sem graça faria com que você dissesse em seguida “O que vai fazer sobre isso?”. Alerta vermelho! Pior, você me faria perceber que, na verdade, são só defesas que uso para não me machucar e me faria lidar com demônios que talvez eu nem lembre ou saiba que existam, mas existem e precisam de atenção. Era uma tiração. No entanto, me desconstruiria, porque o amor faz isso com a gente sem que a gente perceba e, então, em algum momento durante o passar das semanas, as minhas cascas estariam espalhadas por aí à medida que o amor me curasse e me fizesse perceber que por mais que ele não seja eterno, ele é bom, honesto e gentil e consequentemente eu saberia que eu também sou boa, honesta e gentil. De repente, eu estaria por aí me perguntando sobre tantas coisas que me dariam nó na cabeça, mas um nó bom. Como “Será que as formas que eu demonstro amor fazem bem?”, “Como a forma que eu amo afeta o outro?”, “Eu poderia pintar o quarto de amarelo”. Então, me faria perceber que ter me negado para o amor, acreditando que o amor próprio seria provido da solidão, quando, na realidade, me fez perceber que é mais coletivo do que eu imaginava e que o amor que vem do outro faz com que cresça dentro de mim também, me faria descobrir o segredo do maior amor que existe e estaria bem com isso.
Me recuperei rapidamente.
Fiz a minha escolha.
Manipulei toda a situação.

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