satirizonas em: interpretando sonhos (ou dando significado para eles)

Há dois anos, eu fazia consulta com psicanalista. É engraçado que quanto mais tentava organizar meus pensamentos através da fala, mais o meu incosciente tentava conversar comigo. Em um desses encontros na terapia, falei sobre um sonho que tive. Nele, eu procurava uma casa nova para morar, subia no segundo andar do apartamento de forma sofrida, porque era uma espécie de elevador apertado, e lá dentro da casa, me perdi… por mais que parecesse pequena por fora, era bem espaçosa por dentro. A casa era toda mobiliada e organizada, exceto pelo banheiro que, ao entrar, estava sujo como se alguém tivesse jogado alguma bebida doce nele. Grudento. Não entrei. Então, meu psicanalista disse “Será que esse banheiro não é você e tem algo que precisa limpar lá dentro?”. Pensei. É como se o banheiro fosse a minha parte mais vulnerável e íntima, aquele espaço que além de ser tão pessoal de cada casa, também vira o lugar onde você se esconde para chorar, para aliviar suas dores durante um banho gelado e até mesmo só para fugir da família. Me peguei pensando sobre todas as manutenções que precisei fazer comigo mesma na época porque, de fato, eu precisava ter mais atenção às minhas vulnerabilidades. O que precisava ser limpo?

Então, parece que obtive uma resposta ontem à noite, sonhei que eu estava nua no banheiro da minha casa. Eu me tocava loucamente e conseguia até chupar meus seios. Quando olhei para o lado, a porta do banheiro estava aberta e me senti exposta. Tentei fechá-la rapidamente, mas acordei. Me lembrei dessa mesma conversa anos atrás e me fez refletir sobre intimidade, vulnerabilidade e… inacessibilidade. Perguntei a mim dessa vez, já que parte do processo é também a autoanálise, “A sua inacessibilidade emocional está exposta e assim você está tentando deixar que saia ou você deixou a porta destrancada desde o início por que queria que alguém visse?”. Aluguei um triplex na minha cabeça. 

Assim, tenho refletido sobre o que realmente é a transparência e o que de fato me torna inacessível quanto à ela. Imagina, você parecer tão fora de órbita que seus sonhos estão conversando com você por mensagens de “Olhe aqui! Estamos precisando de cuidados!”, é como se fosse você mesma dentro do seu universo.

Quer dizer, imagine que por acaso a vida toda você teve que lidar com tantas responsabilidades e emoções conjuntas que nem pertencem a você apenas porque você foi ensinada a ser necessária? De repente, você se cansa de lidar com todo o peso que é ter tantas pessoas dependentes de alguma forma de você (sabendo que você não é absolutamente nada para elas porque está sempre forte, disponível e responsável) que se torna indiferente e todas as questões que antes pareciam desesperadoras, assustadoras e inalcançáveis não significam absolutamente nada. E, o que antes parecia ser tão extraordinário de ser visto e contemplado é só algo que existe e você que antes expandia toda a energia para fora, agora a preenche por dentro e se afoga com si mesma. Quando chegar em alguma terça-feira qualquer de um mês qualquer, você vai estar na mesa com pessoas que você gosta, mas não vai se sentir disposta de ser aquele você que vê tudo de forma extraordinária até mesmo quando alguém falar algo que você gosta bastante, depois vai se tocar disso e pensar “Será que realmente me tornei adulta ou só me apagaram tanto que de repente não importa mais?”.

Mas, a esperança acaba depois disso tudo?

Bem, fomos criados para dar sentido às coisas e isso é algo que pertence a cada mundo particular que vive dentro de nós mesmos. Até toda essa ira cansativa passar porque tentam enganar a nós mesmos intitulando para que fomos feitos e quais nossos devidos significados, nós revidaremos dançando, escrevendo, vendo filmes, cantando e bebendo nos fins de semana para relembrar a eles que somos nossas próprias significações, ou seja, somos as interpretações de nossos sonhos e vice-versa. Por exemplo, pelo meu sonho no banheiro, eu posso ser alguém inacessível emocionalmente que está buscando transparência ou só uma safada que preza a sua sexualidade (ah, vai, eu gosto mais da segunda opção porque já deu de lidar com traumas emocionais resultantes de traumas de infância).

Como acabar esse texto agora?

Sei lá. O título dessa saga é Interpretando sonhos (ou dando significados para eles), interpretei e dei o significado e ainda fiz uma alusão legal com nós mesmos. O resto a gente empurra com a barriga, só porque é um desabafo não significa que vou ter soluções práticas, já que o sistema aprisionou a gente em só lidar com nossos problemas quando já estamos à beira de um colapso.

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