satirizonas em: quando você precisa deitar um pouco

Passei a manhã sozinha. Tive um tempo de qualidade comigo mesma e lembrei que sou muito boa em muitas coisas, como meu rosto é macio e como sou confortável ou omo posso ser criativa, boa em descrever cenários e amarrando o meu cabelo. Eu posso ser bastante estilosa, também tenho muita sagacidade. Tiro muitas coisas de letra. O silêncio me ajudou a pensar sobre como o meu mundo é extenso e infinito, vasto de muitas informações e descrições, com vários tons no céu, as estações do ano ocorrem todas no mesmo dia porque um único dia é um ano e vice e versa, como as pessoas tem empregos de conforto, como deitar ao lado de filhotes de cachorro ou dormir em camas em lojas pelo tempo que quiserem porque o tempo não importa. O tempo realmente não importa no meu mundo. Tive paz. Eu pude viver em um mundo justo. Eu não pensava em nada além do silêncio e da contemplação dele.

Até que a tarde chegou. Aquilo começou a me incomodar de leve, mas ignorei. Eu precisava ignorar. Ignora. Ignora. Deleta. Pensa em outra coisa. Coloca uma música. Faz alguma coisa. Lembra de algo engraçado. Conversa com alguém. Mas quem vai querer conversar sobre qualquer coisa quando todos estão ocupados vivendo as suas próprias vidas e apreciando de seus únicos tempos? Quem é você? Quem é esse mundo? Quem são as pessoas? Quem é esse lugar? Quem é essa casa? Quem é que está colocando ideias na minha cabeça? Apenas para. Para. Para. Para. Por que precisamos provar o nosso valor? Por que temos que ganhar medalhas para provar competência? Não é justo. Não é justo. Não é justo. Não é justo. O mundo me dói o tempo todo. O mundo me dói. O mundo dói. Esse mundo não existe. O mundo é como os cachorros de rua abandonados. Me dói. O mundo é como as pessoas. O mundo é como a dor. O mundo é a indiferença. O mundo é como o abandono. Eu tenho ódio. Eu tenho tanto ódio. Eu sinto vontade de rasgar a minha pele. Eu tenho ódio. Eu cresci tendo ódio. O abandono. A dor. O abandono. O uso. A posse. A dominação. A objetificação. Eu sinto raiva o tempo todo. O mundo é como as crianças afetadas. Eu sou afetada. Eu sou machucada. Eu sinto ódio. Ódio. Ódio. ódio. ÓDIO. Sinto raiva. RAIVA. Me dói. Eu sinto dor o tempo todo.Eu quero me curar, mas quero curar o outro. O mundo dói. DÓI. Por que somos tão pequenos mesmo sendo um estado tão grande? Por que somos resultados de escolhas e decisões de um mundo que nos controla? Por que somos todos iguais mesmo sendo tão diferentes? Somos controlados. Somos nada. Somos nada para eles. Não somos nada além de trabalhadores. Nada. Nada. Nada. Tira essa melancolia. Tira isso de mim. Apaga. Apaga. Dói. Dói. Deu um chutezinho no estômago ali, me deixou sem energia e o nó na garganta doeu. Ignorei, ignorei e sorri.

Por fim, a noite veio… Me encolhi, ainda buscando desesperadamente por qualquer distração que evitasse que eu ouvisse ou sentisse ele chegar. Mas ele chegou… É inevitável porque ele sempre chega. Até um tempo, quando fui ao médico fazer exames de rotina, achei que ele fosse só falta de vitaminas e que no tratamento, ele iria embora como um vírus de resfriado. Mas ele não veio por falta de vitamina. Acho que ele cresceu junto comigo. Ele é filho do meu ódio? Da minha raiva? Da minha tristeza?

Eu deitei. Quando ele chega, eu não consigo mais me suportar em pé. Parece que carrego eu e ele. Eu preciso me deitar para aguentá-lo. O vazio. Ah, o vazio. Como o vazio pode pesar tanto? Mas ele pesa. Ele pesa o mundo. Ele pesa o infinito. Deitei. Dá pra suportar. Eu suporto toda vez.

As lágrimas vieram. Elas me ajudam a fazê-lo ir. Ele não vai de uma hora para outra, ele ainda fica por uns dias. Você consegue levantar no outro dia e tomar café, rir com as pessoas que você gosta e ouvir as suas músicas favoritas. Mas deixa as lágrimas fazerem a sua função de te ajudar a deixá-lo ir. Elas escorreram pelo meu rosto, me lavando de toda a raiva, de todo o ódio reprimido que nunca acaba, de toda a tristeza contida que parece infinita. Elas lavam devagar tranquilamente e carinhosamente as feridas que estão dentro de mim. Obrigada, eu. Uma hora vai passar de vez.

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