poesia
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ainda não consigo falar sobre isso
às vezes falo… descrevo e lamento. menos descrevo, mais lamento. tem dias que… não consigo falar sobre isso.eu ainda não consigo falar sobre isso.tem dias, semanas, meses, que vivo e esqueço. mais vivo, mais esqueço.tem dias que… tem dias que eu lembro. eu ainda não consigo falar sobre isso. no lugar, a aversão à pele…
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utop(ia)
gatos com olhos enormes acarinhadosskincare com kit promocional duzentos e noventa e nove reaisacorde às cinco, durma às duas da manhãbebês e cachorrinhosseja devota, seja submissa a nova moda: magra e recatadaesbanje feminilidade, expresse gratidão invista o seu dinheiro em bitcoinssabe o que atrai os homens? compre o kit devocional e seja abençoado skincare noturna:…
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chorinho da deusa-leão
me faz versos ou chorinhosprometo que leio, juro que ficome faz agrados e carinhosprometo que amo, juro que ligome coloca num altar,me faz uma mesa, decora meus olhosme coloca num altar,me faz uma nota, quebra o relógiome coloca de quatro,me faz um cordel, queima as velasme coloca no prato,me faz de janta, agradeça pela ceiame…
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solta a carta
aos amazonas, nas provínciasapostando em vidas,(desde)amor que viria em mimencontro de irasincendiados,que gritam horrores,carinham amores,rezam por cores(escondem) as doresque esfaqueiam palavras,assopram misérias,desejam as quedas(sofredores) entreletras em certidõescontam histórias revogam a misericórdia,devotam as horas,desperdiçam…(desperdiçam)cospem(lixo)floreiam(mentiras)des(nós) transformadosapostando em confianças crescendo em lares revoltadoszeros zeros zerosacabam acabam acabammãos entrelaçadasos cortes entre os dedosantepassados em espelhosolham para nós pelas fotos(a…
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bêbada em alto rio negro
rodopiei em cima do rio,me banhei nas águas geladas o banzeiro passeou pelas minhas coxasmolhada, o frio dos cabelos grossospassearam pelas pardas costas nuasarrepiada, meus dedos tonteavam o solrodopiei em cima do rio,risadas de fins de calordançando com os pés flutuantesquentura de quarenta graus à noitefesteira, de bregas e toadas trêmulasdançaram até encostar com a…
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me torna esquecível…
As ruas depressas no ônibus quente,Correndo no trânsito Lá fora, as cores verdes e amarelasAqui dentro apenas o cinzento… Lembro de acenar para o engarrafamento,Disseram que era uma festaMas não estávamos nos divertindo lá de dentroEstávamos estrasados, esquecidos no tempo Abra, abra a portaA festa não pode pararE nós podemos?Nós nem andamos ainda
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no vale do silêncio
uma perna, um quatrono vale do silêncio,eu sou a deusa da ignorânciaeu não procuro saber,mas procuro sentiras mãos juntas, posição de ataque danço em volta da cerâmicano meu mundo,não controlo eu me guio,meus sentimentos são importantes,mas a justiça é a chave para me fazer abrir portasuma perna, um quatrono vale do silêncio,eu sou a deusa…
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gostinho de cupuaçu
docinho em mim,meu doce de cupuaçudesejo às dezesseis e dezesseisbeijinhos de suspirospenso às dezoito,em receitas de posiçõescoberturas, recheiosvitaminadas, sucosmisturas de calor sensações no frioàs vinte e três horas,pude me servir à ceia
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temporais
pinguinhos de prazospresos em inconstâncias passam por ventaniaschoram ponteiroslamentammilissegundos de poçaslágrimas de horas peçamos em nome do tempoque provoquem tempestades até que esqueçamos…
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sobre a folha seca que caiu no seu ombro aquele dia
Em fevereiro estava tão quente, as vindas do ar de fogo no meio da tarde balançavam meus cabelos secos e esquentavam as minhas bochechas. O Sol estava vermelho. A nossa pele ficou avermelhada, apesar da sombra que nos agarrava em afinco. E eu lembro de ver as lágrimas escorrerem entre as suas montanhas como cachoeiras…
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eu te dev(oro)
ajoelhado, em cima da mesa abri-me em lamento domingo de manhã às sete eu o comi, em sofrido silêncio
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enigma
me falaram que eu era uma pausavocê consegue me ver quando se ouve?se em lamentos, eu surjovocê me espera?mas eu não apareço em suas falas, só em suas orações
