poesia
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ainda não consigo falar sobre isso
às vezes falo… descrevo e lamento. menos descrevo, mais lamento. tem dias que… não consigo falar sobre isso.eu ainda não consigo falar sobre isso.tem dias, semanas, meses, que vivo e esqueço. mais vivo, mais esqueço.tem dias que… tem dias que eu lembro. eu ainda não consigo falar sobre isso. no lugar, a aversão à pele…
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gostinho de cupuaçu
docinho em mim,meu doce de cupuaçudesejo às dezesseis e dezesseisbeijinhos de suspirospenso às dezoito,em receitas de posiçõescoberturas, recheiosvitaminadas, sucosmisturas de calor sensações no frioàs vinte e três horas,pude me servir à ceia
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temporais
pinguinhos de prazospresos em inconstâncias passam por ventaniaschoram ponteiroslamentammilissegundos de poçaslágrimas de horas peçamos em nome do tempoque provoquem tempestades até que esqueçamos…
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eu te dev(oro)
ajoelhado, em cima da mesa abri-me em lamento domingo de manhã às sete eu o comi, em sofrido silêncio
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enigma
me falaram que eu era uma pausavocê consegue me ver quando se ouve?se em lamentos, eu surjovocê me espera?mas eu não apareço em suas falas, só em suas orações
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quando o ar sussurrou
eu poderia ouviruma vez,duas vezesseis vezes como uivosem ventaniascomo pinguinhosem poças como farfalhasde folhas secascomo o balançar de ventanianas árvorescomo o som da sua risadamais estonteante como o tomque saiu…quando dissena primeira veze na última e eu poderia ouvir maissetenta vezes setevezes
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caldinho
desce abaixoquentinhoa colher entra e sai,água na bocatemperinhos descem pela goelaverdurinhas,sem chororôqueimaduras,sem angústiasfebril, acabando tão depressaminha garganta doloridadoía, doía, doíaflutuam sentidos, que maravilha…caldinho milagrosome esquentouaté o ossosuando,em chamas caldo de peixe me curousobrou as cuias em lamentos
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amazona, submundo
de guerreira a deusa do caosdo caos que semeou a batalhaela cantaaplaude em som da batucadade um pequeno mundo abaixo da terraimplantado para a feminilidade oprimidaa dor plantou sementes, e de sementes se tornaram ira!o estrondoso passo das anciãs soae o baixo torna-se altarelas gritam elevando Amazona!canta a mãe do corpo!a deusa do caos liberta…
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bolha de sonhos
esfarelando areia nos olhos,lembrei das caçadas no mapa dos astros, conteiquantas bolhas de água respiravamperdendo a conta,fui atrás de respostasenergia mística,me mostreos livros surgiramsem pautas e palavrasas cartas não tinhamletras à mão nada alinhava minha lua-almanada trilhava meu labirinto-coração esfarelou os sonhos,areias de infânciaas imagens formarammedonhos refletidosem grandes crianças
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áster
tá doendo, ele puxou de novo um fiode cabelo pra que eu ficasse quietapassei os dedos da minha mão adulta entremeus cabelinhos, tá doendo quanto?tá doendo o mundo, minha voz melindrosasussurrou criancinha, pequenininhao mundo doeu, doeu, por tantosque sinto ele até hoje nos fios arrancadosdo meu cabelo que nunca mais crescerame as unhas cresceram de…
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em noites silenciosas, eu não penso demais
Está chegando a falta de barulho nas casas É mádrugada jogando seus carmas Aqueles que passam o dia em movimento Cercando-se de afazeres Sozinhos com eles neste momento Você está pensando E é prisioneiro deles e de si mesmo Você está pensando sobre as coisas Se eu tivesse amigos, eles me atenderiam agora?Eu sou tão…
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inundados
dentro das minhas estrelas no aquário penso em fazer amor, olhando em espirais de peixes que se afogam como se faz amor quando se procura por ele? o vento lá fora cantava,dentro de mim ardia em dúvida mas dentro desse imenso vidro quenos separa em transparência é tão difícil imaginar que o que distancia são…
