a conquista de vida dos balões

Já soube da vida dos balões quando eles chegam na fase de ascender? É uma conquista entre eles. É o ciclo da vida dos balões, na verdade. Nascem, preenchem-se e flutuam. No entanto, aquele balãozinho não se enchia por nada. Toda vez que o enchiam de ar, ele se sentia grande demais e se esvaziava. Murchinho, pequeno. 

— Aconteceu de novo?

— Acho que ele não entendeu ainda. É no tempo dele.

Levaram-no de novo para o armário, guardando-o com os outros balões experientes. Quietinho, sem graça, ele já sabia o que viria de novo. Aquela conversa fiada de “Tu tem que sentir!”, “Ainda não aguentou?”. O que ele precisava sentir? O que ele precisava aguentar? Que piada!

Ficou procurando aquele outro balão que de vez em quando via quando era colocado na caixa. Era um balão que dormia do lado oposto da prateleira do armário. Ele era tão bonito. De cores amarelas e vermelhas. Quando o via flutuar cheio de ar por dentro e as flamas o soprando para cima, não conseguia desviar o olhar. Parecia que o céu ficava mais bonito por tê-lo lá dançando com ele e os feixes de luz do Sol como um globo de espelhos.  

— Tu tem medo? 

— Quê?

— Medo de altura. — quando o balão olhou para o lado contrário, viu aquele lindo balão o olhando de volta. 

— Nunca voei pra saber se tenho.

— Mas pensa que quando voar vai cair lá de cima? 

— Acho que não. 

— Colocaria em risco a vida das pessoas que estão contigo.

— É pra me ajudar ou pra me fazer murchar ainda mais?

— Pra te fazer pensar. 

O balão ficou reflexivo. 

— Tenho medo, sim. Mas não é de altura.

— Entendi.

— Entendeu nada. Se entendesse, não estaria voando. 

O balão bonito riu. 

— Acho que não. Eu tenho medo toda vez que me preenchem. 

— Mentira. 

— É sério. 

— Então, como? Como tu voa?

— Dá medo, mas a sensação de flutuar é muito grande. Eu me sinto grande, então flutuo. Entende?

— Acho que tenho medo de espocar. 

O outro balão deu um sorrisinho, mas era de compreensão. 

— É, acho que todo balão tem medo.

— Você já viu um balão espocando? Dá muito medo. 

— Dá mesmo. É morte na certa. 

— E se espoca lá de cima com o calor das chamas?

— É, tem isso. Assustador. 

— E aí? É essa a resposta?

— São coisas que a gente não pode evitar. Mas, fala sério… evitar a sensação de se sentir grande e infinito por morte imediata? 

— Tá brincando, né? 

— É, tô te zoando. 

Eles riram, ficaram em silêncio por um tempinho. 

— Acho que eu não tenho uma resposta pra te incentivar a flutuar. Cada um tem um jeito de enxergar lá de cima. Uns gostam de se sentirem preenchidos, outros grandes. Tem uns que gostam da luz perpassando pela sua textura e cores. Outros gostam da sensação de calor que passa pelo ar lá dentro… 

— E todos tem medo de espocar. 

— Mas a gente não vai espocar em algum momento ou um dia vamos estar murchos demais para conseguirem nos encher. O que vem depois? O que veio antes de espocar?

— Parece papo motivacional.

— É, tu tem que buscar sozinho. E eu vou tá aqui pra te ver flutuar pelo Sol da manhã.

Aquilo deu uma motivação para aquele murcho balãozinho. De manhã, motivado, foi pego da caixa. Sentiu a brisa das sete da manhã, foi para a máquina. 

É agora. Eu vou me preencher. Vou me sentir vivo. Vou ter objetivos de vida. Vou entender o verdadeiro significado por trás da minha existência. 

Não encheu. 

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